sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Vende-se




Os mais recentes pins do São Timóteo em "festejos de verão", para os maiores fãs!


2.00 euros cada.

Quem é quem?



Parvoíces derivadas de factos reais

Já por cá ando há tempo suficiente para ter percebido que a vida tem fases. Fases de um determinado tempo que acabam por passar e dar lugar a outras. Há a fase da inocência em que tudo parece bem, em que não existem quaisquer tipos de preocupações e os nossos pais tratam de todo o nosso bem estar, há a fase da curiosidade em que procuramos perceber tudo o que nos rodeia seguida da fase inicial da compreensão e da descoberta do relacionamento entre os conhecimentos que foram adquiridos, há a fase da nossa descoberta como seres sociais e a procura de uma evolução nesse sentido que incita à descoberta das paixões e das amizades, há a fase da parvalheira, de uma procura de afirmação pessoal que leva a um egocentrismo insuportável, há a fase da negação em que achamos que não valemos nada, a fase das crises existenciais, a fase dos sonhos e da formulação de projectos improváveis, a fase da acomodação, a da dedicação, e há também a fase em que se lavam pratos e panelas no bidé enquanto que se tem dormido duas horas por noite, intercaladas com a elaboração de trabalhos teóricos para o quarto ano do curso de arquitectura sobre o lugar da memória, em divagações acerca da memória como património material ou imaterial. É a fase em que se divide o tempo entre o transporte para a casa de banho de baldes de loiça rançosa e o estudo das relações entre as concepções arquitectónicas do período visigodo e do moçárabe na península ibérica, fase em que se pega no x-acto, para cortar K-line em pedacinhos que se deverão conjugar para formar a miniatura de um museu, e que se pousa em seguida para se pegar na esfregona para absorver a água cagada de banha vinda das cozinhas dos apartamentos de cima, que entupiu na corete e se espalhou no delicado chão de madeira envernizada da minha modesta salinha, que por sua vez se contorceu e saltou fora proporcionando um confortável piso misto de tacos melados e betão com resíduos de cola. É portanto a fase que surpreendentemente relaciona o chafurdar na imundice, o lidar com a porcaria e o processo criativo de cultura fina, conceitos que aparentavam ser antagónicos, mas que, como é deste modo provado, se complementam de certa forma (e pensando bem a relação das palavras "fino" com "sujo" não me é de todo estranha).
Apesar de eu caracterizar esta fase como uma das fases em que o recurso ao “foda-se” não é suficiente, ela não é de todo uma má fase. Uma má fase poderá ser passada em três meses na Etiópia a matar fome com terra, ou numa noite em Bagdade a levar com mísseis em cima sem se ter culpa de nada. Fases desse género são más fases, uma fase como esta não o é com certeza. E para além disso é só uma fase à qual muitas outras se hão-de seguir, que, numa previsão intuitiva, uma delas poderá ser a fase do entupimento na corete a que se liga a sanita. E aí sim, o azar será menor e eu hei-de dizer que deus para mim existe e que a culpa da sua ausência em território etíope ou iraquiano é minha.