quarta-feira, 21 de novembro de 2007

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Uma aventura no cemitério

Primeiro de Novembro e dia de todos os santos como lhe chamam. Não tenho o hábito de neste dia ir ao cemitério, como tem que ser, apesar de toda a minha família o fazer, e não porque não respeite os homens que já morreram, que não goste de cemitérios (até os acho interessantes, são pequenas cidades dos mortos) ou só porque não me identifique com a cruz. Não tenho o hábito porque acho a ida neste dia forçada e artificial. Uma pessoa quando vai ao cemitério fá-lo ou porque sente saudades de alguém querido que já se foi e lá sentir-se-á mais próxima dela, ou porque sente que está a perder as memórias de alguém ido com a rotina do dia a dia e se lá for conseguirá avivá-las um pouco. No dia de todos os santos o povo vai ao cemitério porque é dia de todos os santos e no dia de todos os santos é dia de ir ao cemitério. E o que é que acontece? Uma enchente de povo vivo que invade território de povo morto. E porque o povo vivo tem naturalmente mais vitalidade que o povo morto sobrepõe-se-lhe, e com isto não há qualquer espécie de comunhão espiritual entre vivos e mortos mas sim e apenas de vivos com vivos. E os mortos, já estão mortos. Os mortos já não falam e não ouvem, nem conseguem ver que trazemos a nossa melhor vestimenta que só foi usada na Páscoa passada. E o que interessa é que o padre nos veja lá na hora da missa, e já agora que os outros saibam também que lá estivemos, porque assim somos boas pessoas. Estou a generalizar, claro, que me desculpem os outros que vão ao cemitério fazer o que se faz no cemitério.
Neste primeiro de Novembro, por acaso, também fui ao cemitério, aproveitei boleia. E gostei de ter ido, passei momentos estranhos e vi coisas estranhas. Entrei e aquilo pareceu-me uma daquelas conferências de gala mas ao ar livre, nas que se entra com convite, ou se estivermos na guest list. Estavam todos tão bem vestidos! Falavam alegre e vivamente em grupos e o “salão” animava-se de vozes. Claro que não faltavam as flores para enfeitar o espaço. Faltavam só os petiscos. Entrei e dei as minhas voltas, também tenho os meus mortos. Pensei neles. E logo depois juntei-me aos restantes, aos vivos. Até aqui, apesar do cenário de cemitério transformado em sala de conferências com serviço de catering, as coisas decorreram mais ou menos normalmente. Depois ouvi relatos de vezes em que se fizeram transladações de corpos, que tinham sido vistos cadáveres com mais de cinquenta anos e qual era o seu aspecto. Que estavam ressequidos, castanhos. Ou como já tinham desaparecido todos os compostos, menos os ossos e a gravata, que era de nylon. E ouvi como uma vez um caixão, que costuma estar em prateleira e não enterrado, se dilatou e estourou por causa dos gases, e de como o seu cheiro era insuportável, e se tiveram que abrir uns furinhos para que a caixa não rebentasse mais e para escoar também os líquidos da decomposição da matéria morta. Fui elucidada sobre a profundidade de alguns jazigos e sobre a sua capacidade, se estavam ou não lotados, e no fim pensei como seria excelente a solução de ir para o forno quando eu for desta para melhor. O sol, amarelo torrado e brilhante começava a rasar as árvores, e aquecia-nos os olhos. A paisagem da cidade ao fundo, quieta e dourada marcava certa presença no momento. Preparava-me para ir embora quando fui retida pela notícia de que se iniciava a missa. “Agora não podes sair. Parece mal.” Fiquei mais um bocado. O ambiente de salão de festas alterara-se entretanto. Desfizeram-se os grupos de conversas e cada um pareceu penetrar em si e no chão, ou por debaixo deste. Fez-se silêncio e soou de altifalantes a voz do padre. Dizia coisas às quais não consegui estar atenta e pergunto-me se alguém foi capaz. Decerto sim, porque às vezes ouviam-se respostas em coro. Avistei entre as cabeças objectos metálicos parecidos a tochas e mais um pau com uma coisa na ponta (desculpem a minha ignorância nestas matérias) a aproximarem-se lentamente. Uma família adorava um túmulo por debaixo de uma japoneira e fazia uma imagem bonita, mas estranha. O ambiente tornara-se meio irreal, com aquela luz escura que o sol estava a fazer e com aquelas caras todas que parecia que tinham ganho a mesma expressão: sólida. O povo tinha ficado sólido. Mas o ar era leve na mesma. Depois entoaram-se uns cânticos: “O senhor salvou-me”. Passou o padre e mais dois vestidos de forma parecida. Eu tinha ficado sólida também. Atrás dos três primeiros seguiram-se outros, sólidos mas com as pernas a levarem-nos e a continuar o cântico assustador. Zombies. Pareceram zombies.
“Pronto. Já passou. Podes ir embora”. Saí do cemitério e voltou tudo ao normal. Mas que bocado de tempo estranho que se tinha passado lá dentro.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Coisas para os olhos (a data é que enfim...)

A banda a passar, os homens a tocar, uma voltinha pelo mar


tour, vinho, bailarico, mesa


lost in pirineos



Summer sunrise > soam tão bem estas palavras