sábado, 27 de outubro de 2007

Chegou Outubro

Chegou Outubro. Setembro já lá vai, e com Setembro vai tudo o que resta de um curto verão. Foram-se os dias longos, em que a luz mesmo que não se queira teima em entrar por tudo o que é espaço, e em que até as noites teimavam ser dias. Com a chegada de Outubro, e com ele os primeiros céus opacos e enclausurantes e a primeiras tardes que são noites, perdem-se as últimas memórias frescas do brilho do sol nas gotas de água do mar, perdem-se as energias, a vontade de correr, de levantar voo, de aproveitar todos os segundos para aspirar o ar quente, de ver e viver intimamente com a terra e com o mundo, que nesta altura do ano parece muito mais aberto, mais vasto, quase que possibilitando sair dele para mais longe um bocadinho, e por isso mais livre. Agora vem o escuro, a humidade, a opacidade, e o brilho desaparece dos olhos, e o calor já não cai mais sobre o corpo. Agora vamos enrolar-nos em tecidos e humedecer, melar. E o mundo vai fechar-se para nós, e nós retribuir-lhe-emos isso. Ficaremos letargicos e só daqui a muito tempo o tempo nos permitirá voltar a abrir-nos e a renascer. Em Setembro, Agosto ainda esteve presente, distanciando-se já um pouco mas ainda presente. Em Setembro, fechando-se os olhos ainda consegue ver-se a luz transparente de Agosto, na pele ainda fica a sua cor, a terra ainda não arrefeceu completamente, as árvores ainda vivem, e nós também. Mas Setembro é também transição para Outubro em que tudo será já esquecido. Não se prolonga Agosto para Outubro, não se pode fazer durar Agosto em Outubro. Quando muito pode esticar-se por Setembro, mas Setembro não e já Agosto e por isso não o fará chegar até agora. Eu procurei a fórmula para trazer Agosto para Outubro e se possível levá-lo até ao Agosto seguinte. Encontrei-a, sim, compreendi como seria possível fazê-lo: escolher um momento de Agosto e fazer perdurar esse momento. Mas como se faz perdurar um momento, que não será mais que uma soma reduzida de alguns instantes? O tempo não se repete, e isto tem tudo a ver com o tempo, e se há coisas que perduram no tempo, os instantes e os momentos não. Eu descobri como fazê-lo, mas não digo. Cada um que descubra por si. Eu descobri, mas a escuridão de Outubro recai sobre mim também. Eu descobri, eu sei como devo fazê-lo, como fazer durar um momento. Só que não consigo, talvez porque o momento nunca tenha existido, o momento "aquele momento", pois ele por vezes não depende so de nós. Por isso, agora, resta-me viver Outubro como Outubro, Novembro como Novembro e por aí adiante. E Agosto: até para o ano, com saudade.

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